Uéverton Souza, de 36 anos, elegeu-se como membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2023. Para chegar a esse reconhecimento, contou com apoio da CAPES, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Mestre em Informática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Ciência da Computação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ele cursou Tecnologia em Sistemas de Computação na UFF pela UAB, no polo de Três Rios (RJ), de 2006 a 2008. Segundo o cientista, foi o único meio de se formar por uma universidade pública, já que não teria condições financeiras de ir morar em cidades maiores relativamente próximas, como Juiz de Fora (MG) e Rio de Janeiro (RJ).
Como era para você o acesso à educação superior pública, antes do advento das iniciativas de Educação a Distância (EaD) e ensino híbrido?
Em Três Rios, antes do Cederj/UAB*, a universidade pública mais próxima era a UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). As outras opções seriam na cidade do Rio de Janeiro. Embora Três Rios e Juiz de Fora sejam cidades relativamente próximas, para cursar por lá era necessário ou enfrentar o deslocamento intermunicipal ou alugar moradia naquelas cidades. Ambas as possibilidades implicavam em assumir um custo considerável para a maioria dos trirrienses. O cenário mais realista, como muitos faziam, era trabalhar na cidade e estudar em um curso noturno, em uma universidade privada da região. O advento do Cederj/UAB trouxe a oportunidade de cursar uma universidade pública em minha cidade. Com ele, pude me dedicar integralmente aos estudos.
(*Nota da Redação: Cederj é o Consórcio Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro, criado em 2000. A iniciativa, realizada em parceria entre o governo estadual do Rio de Janeiro e instituições de ensino superior, federais e estaduais, instaladas no território fluminense, serviu como inspiração para a criação da Universidade Aberta do Brasil, e é financiada pela CAPES, por meio do Sistema UAB).
Qual foi a importância do Cederj/UAB para que você pudesse se formar?
O Cederj/UAB, além de oferecer um acesso mais simples à universidade pública, devido à flexibilidade de horário para estudos, trouxe uma maior liberdade para estagiar e depois trabalhar na área. Isso certamente contribuiu para a minha permanência no curso. No entanto, esse modelo de ensino trouxe muitos desafios. Era comum ver bons alunos desistindo do curso por não se adaptarem. Mas essa mesmo modalidade me ensinou a buscar o conhecimento de maneira independente, sem um professor para me direcionar. Essa autonomia certamente moldou parte do meu perfil atual como pesquisador. Acredito que a UAB seja muito importante, por oferecer oportunidade para todos cursarem uma universidade pública. Mas, para concluir um curso nessa modalidade, é necessária uma dedicação muito maior do que em um curso presencial. Isso implica em talvez ter uma taxa de formandos menor, mas certamente os egressos se formam com um perfil diferenciado para contribuir com a sociedade.
Para você, o que significa esse ingresso como membro afiliado da ABC?
Ser eleito membro afiliado da ABC é um grande prestígio para um acadêmico. São apenas cinco jovens pesquisadores por região a cada ano. Esse ingresso significa estar no caminho certo. Além disso, hoje, ao olhar para trás, posso afirmar com segurança que a decisão de cursar um curso do Cederj/UAB não trouxe qualquer prejuízo na minha formação. Um membro afiliado da ABC oriundo da EaD (ou ensino semipresencial, como alguns preferem) provavelmente era algo não esperado pela comunidade, pelo menos, não tão cedo. Sendo assim, esse título também significa ilustrar para a sociedade o potencial da EaD. Ainda há muito a ser explorado.
Você é egresso de 2008. Participou, portanto, dos primórdios da UAB. Como encara o crescimento do programa, principalmente em um mundo cada vez mais dependente de tecnologia, e que ainda passou um processo de distanciamento social ocasionado por uma pandemia?
Acredito que o crescimento dos recursos tecnológicos – e, posteriormente, a pandemia – forçaram a sociedade a olhar com mais atenção para a EaD, mas acredito que deve haver cautela quando falamos sobre o tema. O formato proposto pelo Cerderj/UAB, com polos em cidades onde mentores/tutores das disciplinas estão disponíveis em horários fixos para tirar dúvidas de alunos presencialmente, é o ideal. Na minha opinião, o mentor/tutor presencial é a peça mais importante dessa modalidade. O ser humano naturalmente precisa de contato com pares. Os alunos querem se sentir parte de uma universidade. Formatos onde os alunos não têm qualquer contato presencial criam um distanciamento que desmotiva. Ao meu ver, o sucesso do Cederj/UAB está no fato de o formato ser semipresencial, onde o polo e os tutores presenciais são peças-chaves. Acredito que esse seja o modelo a ser investido e expandido.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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