A tese que alega que uma educação universitária é valiosa apenas na medida em que traz lucro é resultado da mercantilização do Ensino Superior. Nós, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), que atuamos há quatro décadas na formação de professores e profissionais de diferentes áreas do conhecimento no interior de Mato Grosso, não podemos aceitar tal afirmação.
O objetivo do Ensino Superior não é produzir retornos imediatos sobre os investimentos. O seu objetivo deve sempre ser o de produzir uma sociedade educada e enriquecida, que se beneficie do esforço coletivo para criar o conhecimento humano.
Uma educação que contemple toda a gama de artes e ciências é essencial para a formação de sujeitos e profissionais críticos e éticos. Nesse sentido, a Filosofia e a Sociologia instigam o pensar, a reflexão e, acima de tudo, a busca do conhecimento científico. Por isso, exercem um papel muito importante na formação dos acadêmicos nos cursos universitários.
É preciso entender que qualquer profissional, seja ele qual for, terá uma formação bem mais completa quando tiver uma boa bagagem filosófica. “A filosofia serve sempre para nos mostrar que acima de leis injustas existem uma ética e uma moral que necessitam ser levadas em conta. A filosofia serve para nos mostrar que para além de máquinas, tecnologias, internet, redes sociais existem seres humanos e que precisamos agir como seres humanos em nossas relações sociais do nosso dia a dia. Por fim, a Filosofia tem como tarefa mostrar que o caminho certo na nossa sociedade é a paz e não a violência e muito menos o ódio”, disse o professor da Unemat, Aparecido de Assis, mestre e doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Mesmo tomando o ponto de vista de que o que importaria seriam os cursos mais utilitaristas, a Filosofia e Sociologia são essenciais. Os profissionais serão melhores engenheiros, médicos, arquitetos ao possuírem uma formação básica em Filosofia e Sociologia. A presença da Filosofia e Sociologia são importantes também para abordar as questões éticas, que se colocam cada vez mais com as novas tecnologias, e reflexões sobre a própria base do conhecimento para a formação em todas as áreas.
A Sociologia é uma ciência que possibilita explicar e compreender a sociedade contemporânea fundamentada nos processos históricos. A sociologia explica, por exemplo, que diferentes maneiras de dominação, como o patriarcalismo, a exploração de classe social, o etnocentrismo e as outras, não são naturais, mas são históricas e são resultantes das construções que os homens fizeram ao longo da sua história.
Compreendendo que as diferentes realidades são construções sociais é possível o entendimento de que as mudanças sociais são possibilidades. “Ao inserirem-se nas dinâmicas transformadoras as pessoas têm o entendimento do que são as classes sociais, então podem passar da exploração do trabalho assalariado para a organização do trabalho associado. Podem transformar o etnocentrismo e o racismo em relações humanas de reconhecimento das diversidades culturais. A compreensão das estruturas patriarcais e do machismo pode ser transmutada para relações de igualdade de gênero. As explicações dos processos de destruição ambiental levam a valorizar práticas de sustentabilidade”, explicou o professor da Unemat Laudemir Luiz Zart, mestre em Sociologia Política, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e doutor em Política Científica e Tecnológica, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Neste sentido, a sociologia explica o que somos em sociedade e possibilita a imaginação reflexiva e práticas de uma sociedade transformada e transformadora. “Por fim, a sociologia é uma ciência perigosa para os idiotas, mas uma ciência necessária para a construção da realidade social de uma sociedade solidária. Quem tem medo da sociologia?”, questiona Laudemir.